quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Eu existo



Eu passo fome
E você não olha pra mim
Você nunca vai entender
Nem nunca vai sentir
O gosto do vazio
Me deram o direito à vida
E também o direito à fome
Eu vejo meus irmãos
Que se arrastam em
terras vermelhas
À procura de comida
E o que encontram
é mais um pouco de fome...
Eu sinto dor,
Não tenho forças,
Mal consigo andar...
Não sei porque estou no mundo...
Não sei porque fui posto aqui...
A minha única felicidade
Seria um prato de comida por dia,
Mas não tem nada...
Eu estou magro...
Queria que alguém me visse,
Que me ajudasse,
Que lembrasse que sou humano.
Mas acho que não existem pessoas assim.
Já vi a morte através da fome
E a fome através da morte
A cada dia acho que serei o próximo
E espero feliz a minha partida...
Enquanto eu me arrasto, alguém come...
Enquanto eu sinto dor, alguém sente prazer...
Enquanto eu choro, alguém morre de rir...
Eu ainda não sei que tipo de mundo
é esse em que nós vivemos,
Mas sei que tem muita gente
Que não quer me olhar
E que também não quer
fazer o mínimo pra me ajudar
Eu não desejo a fome pra ninguém
Porque ninguém merece essa dor
Desejo apenas que olhem por mim
e pelos meus irmãos...
Eu não quero que seja preciso
que pessoas passem fome e frio
para que nos entendam,
Desejo apenas que nos olhem
nos olhos e nos digam
que nos amam e por isso
não nos deixarão passar
essa fome lamentável
da qual faço parte...
Eu não sei escrever,
Não sou alfabetizado
Tudo isso que você lê
Está no meu semblante
Não é tão difícil enxergar
essa realidade...
Quero você aqui pra me ajudar.
O desespero aqui é grande,
Minha boca está seca,
Eu quero uma gota de água,
Quero a gota da sua lágrima
Quero o afago da sua compaixão,
Quero um abraço de um irmão...
Eu passo frio.
Tenho minhas roupas rasgadas...
Por vezes rezo para que o sol
Venha me aquecer,
E por vezes também rezo
para que ele se vá...
Será que alguém pode me ajudar?
Será que existe algum Estado solidário?
Quero apenas sobreviver...
Peço apenas o meu direito à vida...
Com o que será que tantos se preocupam no mundo?
Será que é tão importante que se esquecem de nós?
É... Deve ser isso...
Deve ser o vício do poder,
Do ter, do obter e do esbanjar...
Deve ser isto...
Mas quero que você se lembre
que quando quiser ajudar,
Milhares de pessoas como eu
Estarão esperando para serem ajudadas...

Mas não perca mais tempo comigo,
pois estas foram as minhas últimas palavras,
A minha última esperança e o meu último suspiro...
Por favor, nos ajudem irmãos...


Rafael Monteiro Lenzi

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